Prozac
virtual
Na
Coreia do Sul, um dos países mais conectados do mundo, a dependência de
internet e, sobretudo, de jogos de computador é um problema que já virou
questão de saúde pública. O Brasil ainda não se aproximou desse nível, mas os
especialistas andam atentos. Estima-se que por volta de 10% dos usuários de
internet sejam "dependentes". No Hospital das Clínicas de São Paulo
já existe um grupo de apoio para quem tem dificuldade de se desconectar.
O
celular facilita o namoro dos tímidos
"Os
frequentadores são pessoas de classe média, com muito estudo, mais homens que
mulheres, que abrem mão de tudo para estar na internet", afirma Dora
Sampaio Góes, integrante do grupo do HC. Para eles, o mundo real é mais sem
graça, difícil e imprevisível. Nos jogos eletrônicos, o que acontece ao
personagem não afeta a pessoa na vida, de modo que ela se sente mais segura em
arriscar. "O jogo acaba sendo um Prozac virtual, um modulador de humor. A
pessoa passa a ficar mais calma, mais centrada na internet, porque se
desconecta do mundo real", explica Dora.
A
psicóloga alerta que a adolescência em si já é um fator de risco para a
dependência, principalmente quando o jovem não tem uma vida social satisfatória
nem apoio familiar. É essencial ficar atento caso a quantidade de tempo na
internet ou a conexão a algum dispositivo de comunicação interfira nas
atividades do dia a dia.
A
tecnologia não é causadora da dependência. Nesse caso, geralmente o paciente já
pode ter algum problema de ordem afetiva. "Não acho que a tecnologia em si
seja o fator principal, mas favorece. Afinal, não haveria dependência de
internet se ela não existisse. Porém, essa pessoa poderia ter algum outro tipo
de transtorno do impulso", afirma Dora. Os problemas que surgem como indicadores
da dependência de internet são: depressão, fobia social, déficit de atenção e
hiperatividade.
Outro
fator que agrava o quadro é o barateamento da internet 3G. Segundo a Associação
Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), os acessos por essa tecnologia
aumentaram 90% entre 2010 e 2011. "O 3G contribui muito para a dependência
de internet e pode gerar maior dependência de celular.
No
último caso, a pessoa não consegue desligar o aparelho nem parar de ver se há
um torpedo ou e-mail novo", diz Dora. Não por acaso, neste ano, o intuito
é abrir, no HC, um grupo de apoio à dependência de celular. De modo geral, as
dependências do telefone e da internet são parecidas, embora independentes.
O
dependente de conectividade passa o dia inteiro ligado à internet, pondo em
risco o emprego, burlando as normas da empresa, faltando à escola ou abrindo
mão de atividades como academia, jantar com amigos, etc. "Com o celular, o
estudante, por exemplo, vai à aula, mas só de corpo presente", conta Dora.
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29% dos internautas brasileiros entre 14 e 17 anos têm um smartphone
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Na Coreia do Sul, a Lei Cinderela estabelece que nenhum jovem pode jogar
videogame durante a madrugada. A medida governamental é uma tentativa de
combater o vício nos jogos de internet.
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53% dos usuários de celular do Reino Unido sofrem de nomofobia, abstinência de
celular (no mobile, em inglês)
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Nos Estados Unidos, os jovens preferem o celular a carros. Já dirigem menos que
os da geração anterior, de baby boomers.
Para
ter um relacionamento saudável com os aparelhos eletrônicos, é preciso manter
satisfações fora da internet, como praticar um esporte, cultivar amigos e
conviver com a família. O propósito das tecnologias de comunicação deve ser
facilitar o contato com outras pessoas, complementando as relações já
existentes.
Nas
escolas
Muitos
professores estão preocupados com a hiperconectividade dos alunos. Mas
especialistas alertam que não adianta proibir o celular em sala. Afinal, o
aparelho pode vir silencioso nas mochilas e nem se perceber que o aluno está se
comunicando com outros fora do ambiente escolar. "O ideal seria usar o
celular como instrumento de apoio ao progresso de ensino", afirma Maria
Elizabeth Almeida, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Novas Tecnologias
da Faculdade de Educação da PUCSP. Para ela, o celular só atrapalha o
aprendizado porque não está devidamente incorporado às atividades pedagógicas.
No
Colégio Bandeirantes, em São Paulo, o celular só é proibido na hora da prova.
Em sala de aula, a decisão é do professor e cabe a ele usar a criatividade para
elaborar atividades em que o aparelho seja um aliado do ensino. A coordenadora
de psicologia educacional Cristiana Mattos Assumpção relata que em uma aula de
biologia sobre hormônios um aluno esclareceu uma dúvida da sala se comunicando
com a mãe via torpedo. A rapidez com que as informações podem ser acessadas é
uma das vantagens. Em outro caso, uma professora de física utilizou um
aplicativo de celular que monitora suas corridas diárias para auxiliar o aprendizado.
"O contato dos professores e alunos nas redes sociais também é uma grande
vantagem, pois aproxima a escola da sociedade e traz o cotidiano para a aula.
Essa integração, em termos educativos, é muito importante", ressalta Maria
Elizabeth.
Mas
as novas tecnologias e adolescência podem resultar em uma combinação
problemática. Por isso, é importante uma conscientização sobre o uso. É típico
da juventude testar os limites, e cabe aos educadores, pais e professores
impô-los. "Desde 2007, damos o curso de ética e cidadania digital. São
três aulas anuais em todas as séries. Discutimos os temas mais populares entre
eles, como identidade, privacidade, autocontrole, bullying, uso responsável de
celular e cuidado com a imagem", conta Cristiana.
Os
resultados não são imediatos, mas em longo prazo o colégio colhe bons frutos.
Os professores perceberam que os alunos estão mais conscientes. Anteriormente,
se expunham demais nas redes sociais. A conscientização sobre esse excesso fez
com que compartilhassem informações com mais cuidado. Muitos ex-alunos tentam
disseminar o conhecimento e levar o método para as faculdades. Outro tópico é
ensinar o aluno a sair da superficialidade e pesquisar a fundo os assuntos.
"Temos de mudar cada vez mais nossas estratégias para tornar o aluno mais
participativo", diz Cristiana.
Segundo
Maria Elizabeth, um fator essencial para melhorar a integração com as novas
tecnologias é a formação dos professores. "Eles precisam compreender as
potencialidades e contribuir para o aprendizado", ressalta. "A
tecnologia em si não vai fazer a diferença. O aluno sabe usá-la para brincar.
Cabe a nós convertê- la em algo educativo, sem torná-la chata", conclui
Cristiana. Todas as gerações precisam de orientação e a juventude atual não é
diferente. "Tem gente que usa o Facebook para encontrar pessoas, e não
para ficar atrás da tela. A ferramenta é legal, o que as pessoas fazem com elas
é que gera problema", finaliza Dora.
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